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18 de mar. de 2021

Fragmentos Aleatórios 4

A Difícil Arte de Amar - Meryl Streep e Jack Nicholson - 1986
 

Coração pulsa de tanto amor, desejos, conflitos internos, razão, culpa, vida que cobra.
Solidão quando mente e corpo  querem estar entrelaçados em braços, pernas e mãos.
Ardor de bocas molhadas sedentas. 
Houve uma vez um verão.


Em bares, cinemas, mulheres desacompanhadas são rotuladas disponíveis.
A noite é morna, horas precisam ser preenchidas, a noite na cidade é de todos, seria sua.
Exploradores na noite buscam aventuras, sexo, companhias, outros buscam só o deleite de um filme, um drink, aliviar a tensão das incertezas da vida.
Para ela é ousadia, uma jovem mulher quebrando barreiras sociais, preconceitos, suas inseguranças. 
Não precisa dele para acompanha-la. Entra no cinema.
Senta na cadeira isolada na quase vazia sessão espremida no meio da semana monótona. 
Sabe que é só mais uma alma invisível no escuro como todas aquelas silhuetas desconhecidas.
A sessão começa, nenhuma mulher desacompanhada além dela. Sente olhares de homens solitários como ela.  
Um se aproxima, senta ao seu lado em meio a tantas cadeiras vagas. Sente medo por alguns instantes ao ver no escuro olhos estranhos se voltarem para seu rosto e a seguir despir seu corpo com olhos frios. Coração dispara.
Levanta-se rispidamente, senta em outro lugar. Aprende o gesto de dizer NÃO na situação, enche-se de poder mesmo que a palavra NÃO tenha morrido em seus lábios. 
O motivador filme é lento, deixa brechas para seus pensamentos, vê-se no passado, no presente, futuro. Incógnitas.
O final é libertador. O futuro? O caminho mostraria, sempre mostra.
No saguão de saída envolto em fumaça de cigarros, cheiro de pipoca e café, a música do filme na mente acompanha seus passos ao final da sessão. 
Risos, lágrimas. Pessoas voam em liberdade pelas avenidas da vida, em busca de seus nortes.
O cinema abriga o sonhador e o questionador.


Na avenida, casais abraçados parecem parados no tempo, em cenas românticas. Solitários se escondem do mundo ou fogem de si.
Outros, libertos se encontram na busca, na ousadia temerosa (ou não).
A noite acolhe, lua acompanha todos sem distinção, não implora olhares de admiração. 
Avenida São João, bares movimentados, o som tocando nas velhas lojas de discos, luzes, mariposas, mendigos, bêbedos, prostitutas, músicos, trabalhadores,  batedores de carteiras... O encanto noturno da cidade.
Na rota encontra uma jovem mãe a empurrar o carrinho de seu bebê, sem medo das armadilhas da noite, canta para ele. Lembra do final do filme.
Batem corações na velha São Paulo, aprendizes de amar, viver, sobreviver.
Tem a leve sensação de que estava uma  mulher diferente, muito mais forte, pronta para encarar o espaço vazio, em breve.
Caminha embalada na canção:

Baby sneezes
Mommy pleases
Daddy breezes in
So... good on paper
So romantic
But so bewildering...


Dalva Rodrigues
18/03/2020