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8 de jul. de 2021

Fragmentos Aleatórios 5

O grupo escolar

O primeiro dia. Não se   dá conta do que é medo ou insegurança, mas sente as pernas bambas.
Uma bolsa, cadernos, livros, um lápis de aprender a escrever, desenhar, uma borracha para desfazer, arrumar...Seis cores para dar vida, iluminar. Uma régua para medir e talvez apanhar.
O uniforme causa estranheza e ao mesmo tempo é lindo, saia azul marinho de pregas, camisa branca com brasão da escola desenhado no bolso, blusa de lã azul marinho, meias brancas 3/4 e sapatos pretos. Sente vergonha de usá-lo.
No primeiro dia segue a avó pelas ruas de terra que em dias chuvosos bebiam água livremente, pelo menos até o asfalto chegar. Por sorte o solo está seco e o uniforme novo não vai se sujar.
Na manhã fria vê parcialmente as figuras enevoadas caminhando quase todas na mesma direção. Por que para lá? 
Finalmente o destino, o grupo escolar enorme aos olhos infantis que avaliam cada detalhe.
Crianças se aglomeram na frente dos enormes portões, as menores quase todas acompanhadas. Segura firme no braço da avó, ah se pudesse voltar para casa...
A insegurança pelo novo era maior que o desejo de aprender.
Distrai-se do medo vendo os carrinhos de vidro emoldurados em madeira onde vendiam doces sobre duas rodas enormes. Cores que saltavam aos olhos: arrozinhos cor-de-rosa, geleias coloridas, chicletes de vários sabores, balas em tiras, pirulitos de todos formatos e sabores, guarda-chuvas de chocolate, triângulos açucarados de bananada, doces corações de abóbora, maria moles brancas como neve envolta em coco seco, moedas de chocolate, caixinhas da sorte...
Acompanha com os olhos a movimentação das crianças ao redor dos carrinhos para serem atendidas antes que o sinal tocasse e o grande portão abrisse. Sorte dos vendedores, um, o Gordo, o outro, o Magro, velhinho de óculos redondos de lentes grossas, parecia a versão masculina da avó.
Assusta-se com tanta gente. Como seria a escola, o que aconteceria lá dentro? Seria a professora boazinha ou má como alguns contavam.
Sinal tocado, portões abertos, misturam-se na multidão em busca de informações.
Na fila de sua classe teve que soltar o braço da avó. Agora estava só, em meio a tantas crianças busca com os olhos alguma amiguinha conhecida. Nada, um mundo novo e desconhecido. 
Cada professora assume a fila de sua turma. Recados dados, hino nacional tocado, cada fila acompanha ordenadamente a professora pelas escadas e corredores até suas respectivas salas.
Senta-se encostada à janela 
quase no fundo da sala. Tímida, treme de medo até a aula começar e fluir.
Logo sente o carinho da professora com cada um, por sorte não era má, até oferece lápis e borracha para quem não tem. E também segura nas mãos orientando os primeiros traços de lápis no caderno encapado de plástico xadrez.
Nas paredes há letras sorridentes, flores e bichinhos estampados em cartazes coloridos e brilhantes. 
Uma lousa gigante (que muito teme) com giz e apagador, carteiras e cadeiras de madeira, um armário com materiais,  trancado pela professora e desperta a curiosidade dos alunos, que eram muitos, nunca vira tantas crianças juntas em uma sala.
E os dias se seguiram, novas amigas, iam e voltavam juntas. O braço protetor tinha outras tarefas por fazer.
Com o tempo experimenta quase todos os doces dos carrinhos.
Guarda na memória os aroma da merenda (nem sempre boa) e o sabor de cada uma delas. 
Acha discretamente seu lugar, sempre no fundo da sala, embora sem nunca deixar de observar tudo ao redor.
Ás vezes ao olhar pela grande janela com persianas ainda sente vontade de sair e estar lá fora em seu mundo conhecido.
Aprende que as professoras boazinhas não duram para sempre e que as malvadas podem ser traumatizantes. Melhor não se apegar a nenhuma delas sem saber que as boazinhas de verdade seriam inesquecíveis. 
Afinal não foi tão ruim...Brincou, ficou de mal, ficou de bem. 
E aprendeu a ler tantos livros e imaginar, escrever e pensar, o maior tesouro escolar.

EMVL


Ciranda Cirandinha

Vamos todos cirandar

Vamos dar a meia volta

Volta e meia vamos dar

O Anel que tu me destes

Era vidro e se quebrou

O amor que tu me tinhas

Era pouco e se acabou

Por isso dona (nome da criança)

Faz favor de entrar na roda

Diga um verso bem bonito

Diga adeus e vá embora