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2 de nov. de 2012

Meu pai e ser feliz!

Hoje é Dia de Finados, dia importante para os religiosos, o que não sou, mas respeito a lembrança dos que nos foram tão queridos em vida, elas nos confortam todos os outros dias, por toda a vida.
Em setembro meu pai teria completado 81 anos, não teve bolinho, não teve abração bem apertado, há 2 anos ele se foi, nunca mais o vi segurando seu cachorrinho no colo, na calçada me acenando quando eu virava a esquina para voltar para casa quando o visitava:
 -Tchau pai!
É estranho pensar em tempo cronológico quando o assunto é sentimento, ao mesmo tempo que parece ter sido ontem, parece uma eternidade quando se sente saudade de alguém querido, com a certeza absoluta de que a gente não vai mais se encontrar, mas a certeza de que ele vive dentro de nós.

Somente há alguns dias tive coragem para reler os rascunhos que andei escrevendo nos dias que passamos juntos aqueles momentos de angústia, esperança e recordações. Foram tempos difíceis de dor e sofrimento verdadeiros, sem as frases feitas de impacto que dizem que sofrimento é opcional...Não é mesmo!

São singelos e frágeis (como eu naquele momento) os versos que fiz naqueles dias, nas tardes solitárias enquanto meu rei dormia...

Sua voz é firme
Conta causos.
Fala dos acasos
Planos passados...
Memórias que lhe contaram.
Ah, como me encanta
Saber um pouco mais de ti!
Talvez uma última oportunidade
Daquela estória me contar

Meu gigante corre contra o tempo
Não este tempo que lhe corrói o corpo.
Corpo que não lhe pertence.
Que lhe rouba os espaços
Lhe joga no abismo
No raso de seu leito.

Quer o tempo da alma
Que tão linda
Mesmo não sabendo andar
Tem vida,sabe voar.
Anda...voando pelas palavras
Quando ao seu lado fico a escutar.

Meu gigante canta
Canções do seu tempo
Do nosso tempo...
Até que a voz se cala
Cansado, o sono o embala
Nutre seu corpo
E rouba-o de mim.

Dorme meu gigante
Um dia o silêncio chegará,
Ao pó voltarás.
Seus risos de menino lá do Miraí se escutará
Suas pernas já o levarão a todo lugar
Mesmo sem asas poderá voar.

Muitos momentos me marcaram naqueles dias, mas uma passagem muito especial foi no último dia dos pais que passamos juntos, enquanto ele dormia fiz meu presente na cozinha....
Quando ele acordou eu disse:
 -Pai, feche os olhos que vou trazer seu presente!
Ele sorriu não querendo fechar os olhos, jeitão mineiro desconfiado...
-Pode confiar pai, feche os olhos!
Fui à cozinha peguei e coloquei na frente dele: - Pode abrir!
Quando abriu os olhos, o sorriso se espalhou, bateu palmas como um menino para um prato de bolinhos de chuva...Este e um longo abraço foram nossos presentes naquele último dia dos pais juntos.

Difícil escrever essas lembranças sem não me debulhar em emoções...

Daqueles dias lentos de emoções infinitas, acho que a maior lição que tirei é valorizar cada momentinho desta vida, cada ato por mais simples que ele pareça, de um momento para outro podemos não mais tê-los. Desde que ficou de cama (2 meses e meio) e nunca mais andou, o sonho dele era poder VIVER mais para andar nem que fosse até o portão e ficar olhando a VIDA passar com seu cachorrinho que ele amava imensamente. Não conseguiu.

Depois desta experiência, por favor, não me falem na medida certa de ser feliz, não me falem de alcançar as estrelas ou ser imortal. Sou feliz porque acordei, posso viver plenamente o dia de hoje e com as melhores lembranças dos que se foram.O amanhã, o próximo instante? Só quando e se eu acordar...











12 comentários:

  1. Dizer o quê? Dalva, lembranças são tudo que guardamos, desta vida só levamos e deixamos a nossa vivência, o resto é pura ilusão. Meu Deus, às vezes eu me pergunto: O por que de tanta prepotência? Infelizmente existem pessoas que pensam que a vida se resume a bens materiais (não vou ser hipócrita e falar que não gosto de um dinheirinho, kkkk..., ele sempre ajuda) e ponto. Mas, depois de adquirirmos a maturidade, a gente sabe e percebe com nitidez que as emoções comandam a nossa existência e o real é invisível aos olhos. Infelizmente ou felizmente, sei lá, só aprendemos a dar valor aos devidos sentimentos com os percalços da vida. Mas, hoje sou muito mais feliz do que a 20 anos atrás que detinha a juventude mas, não tinha a noção exata da grandeza do sentimento que é AMAR. Bjs no coração!!!
    Lia.

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  2. Oi Dalva, é a Vi, é muito duro perder quem a gente ama,perdi meu pai com 16 anos e minha mãe faz pouco tempo.
    Doe muito, não penso sobre isso, porque tenho impressão que meu peito começa a sangrar de tanta dor.
    Temos que ser fortes e confiar em Deus.
    Muitos beijos,Vi

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  3. Linda homenagem. Lindo post. Fiquei emocionada!
    Beijos
    Chris
    http://inventandocomamamae.blogspot.com.br/

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  4. Ahhh... Dalva, que poesia mais linda... a poesia em versos e essa em prosa que escrfeveu sobre as memórias de seu pai... nem vou me prolongar para não me debulhar eu também, em lágrimas... só vou dizer isso, BELÍSSIMO!

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  5. Este comentário foi removido pelo autor.

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  6. Dalva querida,


    O importante mesmo foi este AMOR que os unia e que se tornou mais presente nestes últimos tempos que ele passou com você.Meu pai já se foi há mais de trinta anos , mas sua memória ficou e sempre ficará comigo...e é assim que nos tornamos imortais.
    Linda a sua postagem, amiga, e gostei de sua poesia e de sua prosa...gostei também de saber que é de Miraí, pertinho de Muriaé, onde passei um longo tempo de minha vida (como vc já deve ter visto nas minhas Memórias). Somos quase conterrâneas...deve ser por isto que me idenfifico com você desde o primeiro dia.

    Bjsssss e obrigada pela visita,
    Leninha

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  7. Passei por aqui e apeteceu-me sentar um pouco para saborear a sua bela poesia, Dalva.
    Linda!
    Bji

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  8. Dalva querida...

    Sei o quanto essas datas são difíceis !!

    Ainda mais quando é recente...

    Amei a sua poesia, linda demais e com tanto sentimento !!!

    Já falei que sou tua fã né ??

    Bjus 1000 querida e um lindo finde prá ti !!

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  9. Óia eu aí traveis...

    Desta vez para te desejar um feriado e agradecer as palavras tão carinhosas lá nos Sonhos e Encantos.

    Bjssssss,
    Leninha

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  10. Minha querida Dalva,

    Vim reler teu belo poema, que me recorda o meu pai e a alegria que ele sentia de viver e nos amar...vim recordar a ternura e o carinho com que ele nos abraçava.

    Em tuas palavras, amiga, eu me encontrei...

    Bjsssssss,
    Leninha

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  11. Dalva, devo parabenizá-la pela homenagem e pelo teor das lembranças guardadas do seu pai. É muito bonito e emocionante tudo isso...
    Abraços!

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  12. Gata, eu não sou de cobrar... tá só um pouquinho, rsrs mas cadê post novo para deliciar suas leitoras/fãs !!!

    rssrs #Pepaabusando !!!

    bjus 1000 queridona e uma semana lindona prá ti !!

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