Vai véia!
Atravesse logo essa rua.
Sua vida foi tão longa
Correu tanto e agora não tem pressa?
Vai véia!
Não dobre seus joelhos frágeis.
Segure firme suas sacolas.
Não deixe seus restos pelo chão.
Vai véia, atravesse!
Rápido!
Olhe sempre para baixo.
Não tropece no buraco.
Não me force a perder tempo em ajudar
Basta o trajeto que me força a desviar
De sua figura
De seus passos curtos, inseguros e sem vigor.
Vai véia!
Da cabeça branca
Pele amarrotada
Costas encurvadas.
Apresse-se!
O temporal se aproxima
A enxurrada a espera
Se nela cair
Ninguém vai segurar.
Talvez filmar.
Amanhã terão assunto para postar:
Viu a véia arrastada pelas águas?
Eu filmei
Se curte pode compartilhar!
Vai véia!
A buzina do carro é só pra assustar.
Temos pressa de viver
Você só faz esperar a morte.
Quem vai lhe notar?
E a véia foi.
Empurrada pela dignidade de quem viveu
Sobreviveu.
O temporal caiu.
Camuflou as lágrimas.
A enxurrada era suja
E na força competiu com sua dor
Pela tristeza que a inundou.
Já no quarto desbotado
Correu os olhos pelas folhas de seda amassadas.
Viu-se jovem e forte
Nas poucas fotos encardidas.
Olhou para as mãos enrugadas
Tão marcadas.
Sorriu.
Tomou leite quente
Comeu um biscoito
E se deitou.
Pensou
Ou quem sabe sonhou.
Adormeceu.
Morreu.
Dalva Rodrigues
Vídeo: Um dos melhores solos de guitarra do rock and roll
Atravesse logo essa rua.
Sua vida foi tão longa
Correu tanto e agora não tem pressa?
Vai véia!
Não dobre seus joelhos frágeis.
Segure firme suas sacolas.
Não deixe seus restos pelo chão.
Vai véia, atravesse!
Rápido!
Olhe sempre para baixo.
Não tropece no buraco.
Não me force a perder tempo em ajudar
Basta o trajeto que me força a desviar
De sua figura
De seus passos curtos, inseguros e sem vigor.
Vai véia!
Da cabeça branca
Pele amarrotada
Costas encurvadas.
Apresse-se!
O temporal se aproxima
A enxurrada a espera
Se nela cair
Ninguém vai segurar.
Talvez filmar.
Amanhã terão assunto para postar:
Viu a véia arrastada pelas águas?
Eu filmei
Se curte pode compartilhar!
Vai véia!
A buzina do carro é só pra assustar.
Temos pressa de viver
Você só faz esperar a morte.
Quem vai lhe notar?
E a véia foi.
Empurrada pela dignidade de quem viveu
Sobreviveu.
O temporal caiu.
Camuflou as lágrimas.
A enxurrada era suja
E na força competiu com sua dor
Pela tristeza que a inundou.
Já no quarto desbotado
Correu os olhos pelas folhas de seda amassadas.
Viu-se jovem e forte
Nas poucas fotos encardidas.
Olhou para as mãos enrugadas
Tão marcadas.
Sorriu.
Tomou leite quente
Comeu um biscoito
E se deitou.
Pensou
Ou quem sabe sonhou.
Adormeceu.
Morreu.
Dalva Rodrigues
Vídeo: Um dos melhores solos de guitarra do rock and roll