Minha avó paterna, mulher humilde, de muita fé, morreu aos 103 ainda transbordando fé em deus, tinha esperança em dias melhores, em pessoas melhores, em ressurreição.
Enquanto pode se ajoelhou sobre o tapete para fazer suas longas orações num murmúrio baixinho, com as mãos entrelaçadas sob a cabeça baixa, antebraços apoiados no colchão.
Assim pedia a deus que olhasse por todos.
A imagem ainda é nítida em minha mente mesmo depois de tantos anos.
Todas as camas, todos os tapetes.
Tinha que ser assim, de joelhos.
Lembro quando os anos pesaram (e olha que demorou) ela se sentia triste por não poder mais ajoelhar e pedia perdão a deus por isso.
Eu sempre falava para ela:
-Vó, se deus é tão bondoso e justo como a senhora diz, saberá compreender, certamente.
Lembro vagamente de alguns ritos da igreja adventista que ela frequentava, sempre a acompanhei desde bem pequena. Um deles era a Semana Santa, com cultos todos os dias, orações especiais e um ritual chamado Lava-pés, relacionado a uma passagem bíblica onde Jesus lavou os pés de seus discípulos.
Previamente já se sabia quem seria a irmã (era assim que se tratavam) com a qual fariam dupla para a cerimônia onde as mulheres se sentavam nas cadeiras de madeira escura cada uma com uma bacia à sua frente, no chão.
As crianças ficavam em outra sala com atividades enquanto os adultos participavam da cerimônia, mas algumas vezes conseguia observar as mulheres, não sei o porquê mas lembro só das mais velhas, sentadas nas cadeiras tendo seus pés gentilmente lavados e depois secos pela irmã ajoelhada à sua frente.
Depois elas trocavam de posição, tudo se repetia.
Hinos eram tocados em um piano, as pessoas cantavam acompanhando a letra no hinário que parecia uma bíblia com letras e notas musicais.
Não sabia os significados daquilo tudo, achava intrigante. Queria ter sido uma criança menos tímida para questionar e saciar minha mente sempre inquieta e curiosa.
Provavelmente eles explicavam para as crianças na escolinha sabatina, mas não me lembro, imagino que não eram as respostas para as perguntas que eu me fazia, como por exemplo o rito ser separado entre homens e mulheres.
Mas quem dava trela para conversa de criança?
Ao final do culto neste dia especial havia uma festinha com doces, pipoca, sanduíches e groselha com água e gelo colocada em grandes caldeirões de alumínio e servida em canequinhas com uma concha.
Nessa hora a diversão era garantida, já não precisávamos ficar em silêncio, podíamos correr e gritar com as brincadeiras como talvez tenha feito o menino Jesus com os outros meninos e meninas há mais de 2000 anos.
Mesmo não sendo religiosa hoje penso no quanto esse é um ritual bonito e reflexivo acima de tudo.
Jesus usava de um simbolismo sensacional para se expressar.
Outro dia a amiga Chica perguntou aqui com quem do passado você gostaria de conversar, alguém com o qual não tenha conhecido...Fiquei de pensar e agora me veio a resposta:
-Chica, gostaria de ter levado um papo com Jesus!
*****
Além da humildade de colocar-se um diante do outro e lavar os pés como iguais me faz pensar que a vida é cíclica, uma incógnita, que nunca saberemos em que posição poderemos estar amanhã.
De quem lavaria os pés hoje?
Quem lavaria seus pés amanhã, se precisasse?
Enquanto pode se ajoelhou sobre o tapete para fazer suas longas orações num murmúrio baixinho, com as mãos entrelaçadas sob a cabeça baixa, antebraços apoiados no colchão.
Assim pedia a deus que olhasse por todos.
A imagem ainda é nítida em minha mente mesmo depois de tantos anos.
Todas as camas, todos os tapetes.
Tinha que ser assim, de joelhos.
Lembro quando os anos pesaram (e olha que demorou) ela se sentia triste por não poder mais ajoelhar e pedia perdão a deus por isso.
Eu sempre falava para ela:
-Vó, se deus é tão bondoso e justo como a senhora diz, saberá compreender, certamente.
Lembro vagamente de alguns ritos da igreja adventista que ela frequentava, sempre a acompanhei desde bem pequena. Um deles era a Semana Santa, com cultos todos os dias, orações especiais e um ritual chamado Lava-pés, relacionado a uma passagem bíblica onde Jesus lavou os pés de seus discípulos.
Previamente já se sabia quem seria a irmã (era assim que se tratavam) com a qual fariam dupla para a cerimônia onde as mulheres se sentavam nas cadeiras de madeira escura cada uma com uma bacia à sua frente, no chão.
As crianças ficavam em outra sala com atividades enquanto os adultos participavam da cerimônia, mas algumas vezes conseguia observar as mulheres, não sei o porquê mas lembro só das mais velhas, sentadas nas cadeiras tendo seus pés gentilmente lavados e depois secos pela irmã ajoelhada à sua frente.
Depois elas trocavam de posição, tudo se repetia.
Hinos eram tocados em um piano, as pessoas cantavam acompanhando a letra no hinário que parecia uma bíblia com letras e notas musicais.
Não sabia os significados daquilo tudo, achava intrigante. Queria ter sido uma criança menos tímida para questionar e saciar minha mente sempre inquieta e curiosa.
Provavelmente eles explicavam para as crianças na escolinha sabatina, mas não me lembro, imagino que não eram as respostas para as perguntas que eu me fazia, como por exemplo o rito ser separado entre homens e mulheres.
Mas quem dava trela para conversa de criança?
Ao final do culto neste dia especial havia uma festinha com doces, pipoca, sanduíches e groselha com água e gelo colocada em grandes caldeirões de alumínio e servida em canequinhas com uma concha.
Nessa hora a diversão era garantida, já não precisávamos ficar em silêncio, podíamos correr e gritar com as brincadeiras como talvez tenha feito o menino Jesus com os outros meninos e meninas há mais de 2000 anos.
Mulheres não podiam usar calças. Olhem a rebeldinha! |
Jesus usava de um simbolismo sensacional para se expressar.
Outro dia a amiga Chica perguntou aqui com quem do passado você gostaria de conversar, alguém com o qual não tenha conhecido...Fiquei de pensar e agora me veio a resposta:
-Chica, gostaria de ter levado um papo com Jesus!
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Além da humildade de colocar-se um diante do outro e lavar os pés como iguais me faz pensar que a vida é cíclica, uma incógnita, que nunca saberemos em que posição poderemos estar amanhã.
De quem lavaria os pés hoje?
Quem lavaria seus pés amanhã, se precisasse?
Obrigada pela leitura!