Minha vida era um trem
Surgia entre as montanhas
Rompendo as névoas da manhã
De encontro ao céu azulado
E suas nuvens de algodão.
De encontro ao céu azulado
E suas nuvens de algodão.
Minha vida era um trem
Percorria o vilarejo alegre
Assistia encabulado o beijo dos namorados
Chorava as lágrimas da mãe na partida do filho amado
Chorava as lágrimas da mãe na partida do filho amado
Respondia sorridente o adeus da meninada
Piuí, piuí, piuí...
Minha vida era um trem...
Estacionou no fim da linha enferrujada
Tem como lembrança os caminhos floridos
As estações, suas plataformas
As estações, suas plataformas
O povo, pipoca, algodão doce e picolé.
Hoje o trem me leva
Quando posso sento no canto
Calada
Pela janela vejo a cidade passar:
Concreto estático que grita uma prece aos céus
Árvores secas que teimam em florir, roubam-me um sorriso
Carros e motos disputam espaço
Som de buzinas, fumaça
Som de buzinas, fumaça
Uns dias têm nuvens negras que não desabam
E quando o fazem, alagam o solo árido com lágrimas
Outros dias o azul se faz presente
Mas as nuvens agora cinzas não são mais de algodão
A noite chega de mansinho para roubar a tarde
No belo e irônico horizonte poluído
A cidade passa
Olho para dentro
A noite chega de mansinho para roubar a tarde
No belo e irônico horizonte poluído
A cidade passa
Olho para dentro
Metrô Penha - SP |
O trem nos leva
Procuro não prestar atenção nos passageiros
Cada um conectado em sua nuvem artificial
Tudo é solidão.
Até eu.
Consolo?
Consolo?
Minha nuvem é musical
Aumento o som
Aumento o som
Fecho os olhos e embarco
Vejo-me trem.
Dalva Rodrigues
Dalva Rodrigues
Música para ouvir no trem