Ando, sonhando acordada pelas ruas de minha infância, quando casas eram construidas em terrenos grandes, havia espaço para jardins, árvores e em alguns até mesmo gramados.
Caminho em tempos que algumas crianças ainda levavam flores para a professora mais querida:
Em quase todo quintal há um jardim, pelo menos nos arredores de minha casa é assim. Minha avó tem "mão boa" para plantas, estão sempre bonitas, viçosas , há plantas de vários espécies, vivem "felizes", acordam chorando gotas risonhas de orvalho nas manhãs frescas da cidade da garoa, parecem brincar de balanço com o vento.
São rosas, cravos, lírios, copos de leite, dálias, margaridas, palmas, samambaias, avencas, ervas para chá, temperos... Muitas sombreadas por árvores frutíferas que compõem essa beleza singela, outras, esparramadas ao sol, esperam para abrir às onze horas.
A maioria dos jardins não são elaborados, neste "mundo" não há paisagismo, é tudo bem natural e com o jeitinho da dona (digo donA porque neste tempo não vejo homem cuidando de jardins) da casa, as plantas crescem pelo chão entre dentes-de-leão e também são plantadas rusticamente em latas, bacias, baldes, panelas velhas e vasos.
Tudo simples como a própria vida, o passar dos dias lentamente aproveitados, pelo menos é essa a sensação dentro do meu universo infantil.
De tempos em tempos minha vó doa seu tempo e carinho para as plantinhas, retira o mato, poda, aduba com estrume de cavalo [isso mesmo, nesta época há muitos cavalos circulando e catar esterco é comum] planta, replanta e tira algumas mudas.
Com suas mãos ágeis marcadas pelo tempo, envoltas em terra boa, deixa tudo ainda mais bonito para alegrar os olhos de quem vê.
Um hábito comum é a troca de mudas, quantas vezes batem palmas no portão e logo se ouve:
-Bom dia dona Brígida (minha vó paterna), como estão bonitas suas plantas!
E geralmente, depois de uma boa prosa vem o pedido de uma mudinha dessa ou daquela planta e a pessoa segue feliz seu caminho com sua nova esperança em flor.
Um dia você leva, no outro você traz.
Que bonito essa troca e nem por isso os jardins são todos iguais, cada um tem seu jeitinho, o que determina mesmo a beleza deles é a dedicação nos cuidados.
É verdade que também tem uma ou outra vizinha que nunca dá ou troca mudas e nem por isso seus jardins são menos lindos, estão lá para serem apreciados por quem passa, causando admiração em uns e inveja em outros. E dona "fulana" chata só corre um risco: de uma criança arteira roubar uma flor para a professora ou para seu amor. Mas "mininu" é bicho esperto, ninguém vai perceber!
Acordo de minha "viagem" no tempo, vejo-me andando pelas ruas do agora; calçadas quebradas, vida verde em busca de sol despontando nas rachaduras, nos muros que supostamente nos protegem.
Minha vó já se foi, pela terra que antes cobria suas mãos, seu corpo foi recebido.
A menina já não existe, as mãos marcadas agora são minhas.
Os tempos mudaram, os espaços diminuíram, muito concreto, pouco verde, pouco tempo para cuidar de plantas, poucas relações, a maioria das crianças brincam e crescem em creches e não em quintais divertidos e floridos, aos cuidados das avós.
O hábito de trocar mudas é raro, as pessoas mal se conhecem para ter esta intimidade, quem quer e pode ter um jardim, COMPRA em grandes mercados onde se encontra tudo (menos a "mão boa" para plantas), contrata um paisagista e tem um lindo jardim, que por mais que seja lindo, ao meu ver, falta emoção, falta alma, falta história.
Os velhos jardins envelheceram com seus donos, se perderam no tempo...
Por vezes vejo jardins decadentes, com traços de terem sido maravilhosos, provavelmente quem cuidava deles não possui mais saúde e vigor ou morreram, deixando ali exposta sua ausência implícita e o desinteresse das novas gerações.
Ainda é lindo mesmo entre as ervas daninhas, afinal essas também merecem viver, é vida. |
Em alguns casos os jardins não morrem com seus donos, entre ervas daninhas e galhos desobedientes, as flores ainda lutam bravamente para existirem, ainda se pode sentir a alma deles, de tudo que foram cenários: o chão de terra batida, crianças brincando e rindo, o barulho do balanço, cães enterrando cuidadosamente seus ossos , as cadeiras no terreiro, as prosas, o cheiro de café...E o perfume das flores de um verdadeiro jardim.
Dalva Rodrigues
Comentários a respeito de divagações:
Ainda bem que alguns ainda conseguem, mesmo que em espaços menores, dedicar um pouco desse amor por plantas. Eu não sou uma delas e nem vou dizer que é por culpa da falta de "mão boa", é falta de dedicação mesmo. O meu, nem atrevo mostrar!
Algumas das plantas de meus vizinhos Katia e Paulinho. |
Ontem cortaram o abacateiro aqui ao lado de casa...
Progresso, economia, trabalho, sonhos, ninhos dilacerados e a natureza enfurecida sobrevivendo.
Foto linda do meu amigo Paulinho, quando abrir a janela, já não verá o abacateiro. |
Eu demoro a escrever, mas qdo escrevo é novela, para quem leu até o fim, meu muito obrigada!
Dalva e que bom te ver escrevendo aqui! Adoro te ler! Tua viagem no passado, naqueles grandes jardins, ou outras vezes, nem tão grandes mas à época assim nos pareciam, foi linda... Emocionas sempre! Pena que tudo muda e aí, em nome do progresso, foi-se um abacateiro, os moradores e seus ninhos. Ficam e pra sempre as lembranças...Essas ninguém nos pode tirar. beijos, tudo de bom, agradeço o carinho sempre e agora só o canteiros da vida está "aberto",nesse período de recesso... bjs, tuuuuudo de bom,chica
ResponderExcluirChica,é bem isso que você falou...os jardins nem eram tão grandes como em nossas mentes, há uns 10 anos voltei à rua de minha infância e me choquei com seu tamanho...Naqueles tempos havia um mundo encantado a desvendar naqueles quarteirões, acho que por isso parecia tão grande, proporcional a nossas aventuras.
ExcluirObrigada por me ler e deixar seu carinho, fico imensamente feliz!
Beijos!
Olá, foi um prazer ler seu texto. Divagar sobre as lembranças guardadas na memória é bom demais e alimenta a alma.
ResponderExcluirParabéns!
Se desejar participar de um site de poesia deixo o convite abaixo.
Te convido a fazer parte de Casa dos Poetas e da Poesia
Acesse e registre-se. http://casadospoetasedapoesia.ning.com/main/authorization/signUp
Olá Edith, obrigada pelo convite,já me registrei!
ExcluirVolte sempre, obrigada!
Oi Dalva é a Vi, e como eu gosto de ler o que você escreve, eu estava passeando na sua historia, vendo os dentes-de- leão.
ResponderExcluirSou tão relaxada com minhas plantas, estou tentando melhorar, mas é um sacrifício, mas eu amo plantas vou perseverar quem sabe eu tenho um jardim encantado como o da sua avó.
Muitos beijos,Vi
Oi Vi, obrigada pela visita e comentário tão gentil! Beijos!
ExcluirQue texto lindo! Uma viagem cheia de nostalgia ao passado... Eu sempre quis ter uma casa com jardim, grama, flores, ervas para fazer remédio. Fui fisgada pelas suas boas recordações e se o texto tivesse o dobro do tamanho eu leria com o mesmo prazer...
ResponderExcluirBoa tarde Dalva!
ResponderExcluirGosto dessas andanças por entre lembranças e memória, sempre me emociona bastante. Também fiquei tão triste quando cortaram uma grande árvore que ficava na rua em frente a minha casa.
Suas postagens são tão boa que a gente nem percebe o tamanho. Eu particularmente gosto de postagem longa.Adorei sua atualização!
Estive um pouco ausente durante alguns dias. Mais não poderia deixar que o ano terminasse sem passar aqui pra deixar meu carinho e meus agradecimentos por termos caminhado pelo menos um pouco durante esse ano de 2016 nessa blogosfera. Muito obrigada!
Que o menino Jesus esteja sempre presente na sua vida.
Desejo a você e à sua família um Natal de Luz e um próspero Ano Novo
Repleto de alegrias e bênçãos!
Boas Festas!
Feliz Natal!
Feliz 2017!
Blog da Smareis
Oi Dalva, é a Vi, você sempre atenciosa com seus comentários lá no Tacho, muito obrigada.
ResponderExcluirAproveito para desejar que seu Natal seja iluminado, repleto de felicidade.
Beijos,Vi
OI DALVA!
ResponderExcluirE COMO ESCREVES... UMA DIVAGAÇÃO QUE NOS ARREMETEU A UM PASSADO FELIZ, PRINCIPALMENTE DE QUEM VIVEU NO INTERIOR COMO EU, POIS NA CERTA VIVENCIOU ALGO DO QUE ESCREVESTE.
UM ANO NOVO DE MUITA PAZ E NOVAS DIVAGAÇÕES, AMIGA.
ABRÇS
http://zilanicelia.blogspot.com.br/
Dalva, fico feliz com cada comentário por lá e tu esbanja carinho e amizade!Obrigadão de coração!
ResponderExcluirFeliz 2017 e tuuuuuuuuuuuudo de bom nele! bjs, chica
OI DALVA!
ResponderExcluirUM GRANDE ABRAÇO E GRATA POR TUAS IDAS AO "SÓ PRA DIZER".
http://zilanicelia.blogspot.com.br/
Oi Dalva, que texto lindo! Viajei no tempo e no espaço com suas palavas, também senti saudades daquele tempo. Ele faleceu em novembro e hoje me peguei chorando baixinho de saudades.
ResponderExcluirQuanto ao abacateiro, que judiação. Quando eu era criança, era a única menina da rua, então não tinha com quem brincar a não ser minhas primas, quando íamos umas na cada das outras. Eu passava meu tempo no quintal, brincando com os cachorros, subindo em árvore, fingindo ser a mulher maravilha e da "sociedade protetora dos animais", nome que eu inventei e só depois de anos fui saber que existia de verdade. Naquela época eu queria ser veterinária.
No nosso quintal tinha um abacateiro, eu adorava ficar em cima dele, pegava frutas no quintal e passava horas sentada no abacateiro. Lógico que já caí de lá de cima.
Uma dia, teve uma tempestade muito forte, era dia 12 de outubro, e nosso abacateiro veio ao chão. As folhas do topo da árvore ficaram a centímetros da varanda do quintal. Ninguém se feriu, mas foi o fim do nosso abacateiro e do meu local favorito no quintal.
Beijos, Dalva, continue a escrever <3
Sandra, que comentário mais bacana!! Triste o fim do seu abacateiro,em pleno dia da criança, mas que importância ele teve em sua infância...são memórias inesquecíveis! Beijos!
ExcluirOlá Dalva!
ResponderExcluirBoa semana!
Um cesto de sorrisos pra ti!
Beijos!
Olá, Dalva!
ResponderExcluirMuito interessante sua reflexão. Gostei muito. Fiquei imaginando os jardins lindos que também conheci.Na minha casa tem só um canteirinho, mas, bem cuidado (por minha irmã, rsrs) e vez por outra as vizinhas e conhecidas trocam ou pedem mudinhas.
Prazer em conhecer seu Blog.
Oi Dalva, é a Vi, estava vendo o abacateiro e lembrei quando foram construir um "condomínio" do lado da nossa casa, que podaram diversas arvores, inclusive um pé de cereja, é o progresso.
ResponderExcluirMuitos beijos,Vi
Oi Dalva, boa tarde !
ResponderExcluirTudo bem com você? Desejo que sua semana seja de muitas coisas boas.
Um beijo!
OI DALVA!
ResponderExcluirTE VISITANDO E DEIXANDO UM ABRAÇO.
http://zilanicelia.blogspot.com.br/
Dalva, como estás? Obrigadão pelos carinhos todos! Linda nova semana! Já na metade de fevereiro,CREDO!!! bjs, tudo de bom,chica
ResponderExcluirOi Dalva, é a Vi, também não vejo a hora de acabar, ver tudo pronto.
ResponderExcluirObrigada por seu carinho, beijos
Boa noite Dalva!
ResponderExcluirTudo bem por ai!
Tem postagem por lá.
Que março lhe traga muitas coisas boas.
Boa semana!
Beijos!
Dalva querida,estou usando o computador de minha irmã,daí o "anônimo"
ResponderExcluirNão me contive ao ler suas recordações e como meu notebook está em casa,o comentário vai aqui mesmo.
Menina, você precisa escrever também as suas memórias...seu modo de contar nos faz VIVER OS ACONTECIMENTOS,CAMINHAR PELO JARDIM DE SUA AVÓ E ATÉ MESMO SENTIR OS AROMAS DA FLORES PLANTADAS PELA "MÃO BOA"DA VÓZINHA.
Parabéns ,minha querida! Continue relembrando!
Um beijo carinhoso!!!
Fiquei tão empolgada que me esqueci de assinar,
ResponderExcluirLeninha Brandão
Amiga, muito bom ler o que escreves e suas fotos belíssimas! Parabéns! Estamos na Primavera a mais bela estação do ano! Que venham as flores para enfeitar nossos dias.
ResponderExcluirBom final de semana... Que cada dia seja iluminado com gotas de alegria e sabedoria para que possamos viver na paz com toda a humanidade.
Abraços da amiga Lourdes Duarte.