O frio lhe congelava o corpo naquela noite de Natal.
A tarde de verão fora quente, a noite trouxe tempestades com rajadas de ventos, granizos que pareciam perfurar o corpo desprotegido, a noite era solitária, lojas fechadas, cada um em seus lares nos preparativos para a grande noite feliz! Uma ou outra alma vagava rapidamente para alcançar seu destino, tentando se proteger do dilúvio tropical nos beirais da lojas.
Finalmente seu ônibus chegou, assim que subiu sentiu o ar menos frio do ambiente lhe abraçar o corpo trêmulo e molhado pela tempestade furiosa. Sentou-se encolhida no cantinho tentando se aquecer ou esquecer o frio que consumia o corpo. Pensou em natais passados...
Lembrara de um tempo distante quando as noites de Natal guardavam mistérios de meia-noite que nunca conseguira alcançar. Bebidas geladas, refrescantes, bolhinhas mágicas que dançavam nas taças dos adultos alegres na espera da meia noite, presentes sonhados ao pé da árvore enfeitada, ceia com delícias desconhecidas e desejadas, risos, gargalhadas, abraços, melodias....jingle bells, papais-noéis, era noite de natal!
E tudo existira apenas no imaginário dela, sempre dormira cedo, real mesmo eram os almoços de Dia de Natal, árvore enfeitadas com algodão, comida farta e deliciosa sobre a mesa ajeitada no quintal, roupas novas, muitas crianças para brincar, um dia de alegria como qualquer outro dia de festa aos olhos de uma criança simples e feliz.
Ela cresceu, ficou acordada, experimentou as bebidas dos adultos, brindou, celebrou acanhadamente aquela festa tão sem sentido aos seus olhos jovens; viveu amores, ilusões, era dona de si, tinha a liberdade de ir ou não às festas que quisesse. Era dona de seus abraços, presentes e laços.
E mais rápido ainda o tempo passou, como num piscar das luzes de natal que agora observava lá fora, sentada no ônibus quase vazio que recebia um ou outro atrasado para a festa, seus abrações, presentes e brindes; um bêbedo entrou, discursou para si, cansou e dormiu; uma mãe entrou carregando pacotes desfeitos e molhados na sacola plástica e um bebê mal protegido no peito a chorar; entrou um casal bem novinho tão agarradinhos (como só os jovens amantes sabem ficar) que parecia que a chuva não os haviam molhados de tanto era o calor dos dois (Natal pra quê?!).
Cansou de observar a melancolia da cena que fazia parte, colocou os fones de ouvido, ligou o rádio e foi escolhendo a trilha para pinturas mortas e reais de véspera de natal que se passava além da janela do ônibus em rápido movimento, espirrando água em poucos e ingênuos arrumadinhos correndo atrasados para seu destino. Nos poucos bares e padarias abertos, muitos bêbados, homens entornando cervejas, rindo, aparentemente se divertindo enquanto as esposas em suas cozinhas provavelmente suavam às bicas com os fornos cheios de assados maravilhosos para esperar o beberrão. Nenhuma música combinava com essa cena urbana de véspera de Natal, melhor fechar os olhos ao som de uma seleção de músicas românticas, procurou Amy Winehouse,Love is a Losing Game, sonhou acordada com os abraços do amado e só por alguns instantes sentiu o calor lhe aquecer as roupas ainda ligeiramente úmidas, o corpo, a alma fria.
Finalmente chegou ao seu destino, desceu, caminhou pela rua deserta iluminada pelos pisca-piscas alegres e coloridos. Silenciosa entrou na casa mais solitária ainda, despiu-se rapidamente, ligou o chuveiro, entrou...Como era bom sentir a água quente lavando e aquecendo o corpo velho cansado e gelado. Agora já não parecia estar tão frio, colocou um pijama velho e confortável, preparou um drink, sentou-se no sofá, deu ligeira passada pelos canais da televisão...tédio. Faltavam poucos minutos para meia-noite, saiu na janela, lá fora os fogos de artifício iluminavam o céu. Voltou-se, abriu o notebook, parecia que o mundo estava off line, abriu o Messenger...ninguém...Pensou se deveria...tomou mais uns goles do drink , decidiu-se.
Olhou seu único favorito, um jeitinho de menino que sempre a encantara...tão carinhoso, lindo naquele fundo azul de uma foto tão pequena de avatar...Abriu a janela de conversação, digitou com os olhos do tempo na janela do coração:
Feliz Natal, beijos!
Enter.
Esperou alguns minutos intermináveis olhando olhando a mensagem enviada....silêncio...vazio.
Turned off.
Voltou para a cozinha, preparou mais um drink, brindou só...
Feliz Natal!
A tarde de verão fora quente, a noite trouxe tempestades com rajadas de ventos, granizos que pareciam perfurar o corpo desprotegido, a noite era solitária, lojas fechadas, cada um em seus lares nos preparativos para a grande noite feliz! Uma ou outra alma vagava rapidamente para alcançar seu destino, tentando se proteger do dilúvio tropical nos beirais da lojas.
Finalmente seu ônibus chegou, assim que subiu sentiu o ar menos frio do ambiente lhe abraçar o corpo trêmulo e molhado pela tempestade furiosa. Sentou-se encolhida no cantinho tentando se aquecer ou esquecer o frio que consumia o corpo. Pensou em natais passados...
Lembrara de um tempo distante quando as noites de Natal guardavam mistérios de meia-noite que nunca conseguira alcançar. Bebidas geladas, refrescantes, bolhinhas mágicas que dançavam nas taças dos adultos alegres na espera da meia noite, presentes sonhados ao pé da árvore enfeitada, ceia com delícias desconhecidas e desejadas, risos, gargalhadas, abraços, melodias....jingle bells, papais-noéis, era noite de natal!
E tudo existira apenas no imaginário dela, sempre dormira cedo, real mesmo eram os almoços de Dia de Natal, árvore enfeitadas com algodão, comida farta e deliciosa sobre a mesa ajeitada no quintal, roupas novas, muitas crianças para brincar, um dia de alegria como qualquer outro dia de festa aos olhos de uma criança simples e feliz.
Ela cresceu, ficou acordada, experimentou as bebidas dos adultos, brindou, celebrou acanhadamente aquela festa tão sem sentido aos seus olhos jovens; viveu amores, ilusões, era dona de si, tinha a liberdade de ir ou não às festas que quisesse. Era dona de seus abraços, presentes e laços.
E mais rápido ainda o tempo passou, como num piscar das luzes de natal que agora observava lá fora, sentada no ônibus quase vazio que recebia um ou outro atrasado para a festa, seus abrações, presentes e brindes; um bêbedo entrou, discursou para si, cansou e dormiu; uma mãe entrou carregando pacotes desfeitos e molhados na sacola plástica e um bebê mal protegido no peito a chorar; entrou um casal bem novinho tão agarradinhos (como só os jovens amantes sabem ficar) que parecia que a chuva não os haviam molhados de tanto era o calor dos dois (Natal pra quê?!).
Cansou de observar a melancolia da cena que fazia parte, colocou os fones de ouvido, ligou o rádio e foi escolhendo a trilha para pinturas mortas e reais de véspera de natal que se passava além da janela do ônibus em rápido movimento, espirrando água em poucos e ingênuos arrumadinhos correndo atrasados para seu destino. Nos poucos bares e padarias abertos, muitos bêbados, homens entornando cervejas, rindo, aparentemente se divertindo enquanto as esposas em suas cozinhas provavelmente suavam às bicas com os fornos cheios de assados maravilhosos para esperar o beberrão. Nenhuma música combinava com essa cena urbana de véspera de Natal, melhor fechar os olhos ao som de uma seleção de músicas românticas, procurou Amy Winehouse,Love is a Losing Game, sonhou acordada com os abraços do amado e só por alguns instantes sentiu o calor lhe aquecer as roupas ainda ligeiramente úmidas, o corpo, a alma fria.
Finalmente chegou ao seu destino, desceu, caminhou pela rua deserta iluminada pelos pisca-piscas alegres e coloridos. Silenciosa entrou na casa mais solitária ainda, despiu-se rapidamente, ligou o chuveiro, entrou...Como era bom sentir a água quente lavando e aquecendo o corpo velho cansado e gelado. Agora já não parecia estar tão frio, colocou um pijama velho e confortável, preparou um drink, sentou-se no sofá, deu ligeira passada pelos canais da televisão...tédio. Faltavam poucos minutos para meia-noite, saiu na janela, lá fora os fogos de artifício iluminavam o céu. Voltou-se, abriu o notebook, parecia que o mundo estava off line, abriu o Messenger...ninguém...Pensou se deveria...tomou mais uns goles do drink , decidiu-se.
Olhou seu único favorito, um jeitinho de menino que sempre a encantara...tão carinhoso, lindo naquele fundo azul de uma foto tão pequena de avatar...Abriu a janela de conversação, digitou com os olhos do tempo na janela do coração:
Feliz Natal, beijos!
Enter.
Esperou alguns minutos intermináveis olhando olhando a mensagem enviada....silêncio...vazio.
Turned off.
Voltou para a cozinha, preparou mais um drink, brindou só...
Feliz Natal!
Muito legal. Parabéns!!!!!!!!!!!!!!!!!
ResponderExcluirMuito lindo. Parabéns Dalvinha!!!!!!!!!!!
ResponderExcluirLindo como sempre....vc tem um dom especial para descrever a vida....Bjs querida
ResponderExcluirOi Dalva, é a Vi, lendo imaginei, quantas vezes vivemos situações parecidas..e logo me veio a mente, ter muitas expectativas em relação a vida, pode nos fazer perder oportunidade de ser feliz com as coisas simples.
ResponderExcluirNão devemos estar presos a ser feliz em uma data especifica,pois muitas vezes, certas datas nos ligam diretamente a tragedias, a perdas , a coisas tão tristes que é difícil ficar feliz mesmo quando todo mundo esta aparentemente feliz, e o melhor sem duvida,nessas ocasiões, é dormir e esquecer.
Desejo que Deus lhe abençoe ..
Feliz Natal, beijos,Vi
Dalva, Dalva, Dalva... é incrível como vc consegue expressar essas sensações e sentimentos...
ResponderExcluirSabe que quando era pequena via o Natal desse jeitinho mesmo ??
E agora depois de adulta, o Natal se tornou uma data meio tristonha...
Tomara que passe...
Veja se dá prá ir no encontro em Santos, quero muito conhece-la !!
Bjus 1000 querida