O tempo lhe roubava os sonhos de mulher, mas restava um pedacinho de esperança de descer as encostas verdes e floridas na primavera.
Mesmo tendo se passado tanto tempo a imagem daquele homem frequentemente vinha assombrá-la com as lembranças dos momentos que estiveram juntos.
'Não importa o que aconteça, nunca esqueceremos.'
Foi o que disseram um dia, no primeiro encontro agora tão distante.
Naquela noite quente enquanto observava o céu estrelado, em sua mente fantasiosa a lua cheia e brilhante sussurra em seu ouvido que em algum lugar ele também pensa nela e a espera. Suspirou diante de tais pensamentos e entrou em casa.
Procurou no armário uma caixa onde guardava recordações, retirou uma echarpe de voal branco transparente que usara na primeira vez que se encontraram e levou-a até o rosto, era tão macia...Fechou os olhos, podia sentir o perfume dele, sentir na pele o efeito do toque de suas mãos percorrendo seus braços lentamente.
Mais uma vez as lembranças voltavam...
A vontade de conhecê-lo fora forte o suficiente para perder o medo de um encontro com alguém que só conhecia virtualmente, como não era uma jovenzinha resolveu arriscar aquela nova experiência, talvez única e última diante da iminente velhice que a espreitava sem piedade. Sentia que ele era especial.
Que aventura deliciosa, esperara por ele no cais do porto sentindo o vento morno vindo do mar , vendo os navios no horizonte azulado sendo tragado pelo laranja rosado do pôr do sol; ouvindo Amy Winehouse no velho pen drive e o coração acelerado de ansiedade.
Decidiu-se, iriam novamente se encontrar, dessa vez daria tudo certo, tinha certeza.
Retirou do armário as poucas roupas que tinha e jogou-as sobre a cama, nada lhe agradava, o efeito dos anos no corpo não ajudava muito na escolha, mesmo assim escolheu lembrando e levando em conta o gosto dele. Deixou a roupa escolhida num canto e colocou a echarpe ao lado do travesseiro.
Deitou-se ansiosa para a manhã chegar.
Essa noite não queria sonhar com ele como sempre desejava, sabia que no dia seguinte teria seus beijos e abraços novamente...Confiava na lua, confiava nele.
Adormeceu.
Nunca se esqueceu da primeira vez que o viu ao longe, se aproximando, tinha certeza que era ele, mais alto do que imaginara, forte...Parecia um pirata que aportara de algum navio para arrebatar seu coração. Por instantes teve vontade de desaparecer no ar, talvez ele a achasse muito feia, daria a chance de fazer de conta que não a vira, virasse as costas e voltasse para seu navio pirata. Mas não foi o que aconteceu, logo descobriu que era o mais gentil, adorável e misterioso homem que jamais esqueceria. Tudo foi perfeito.
Não criaram laços, mas havia afeto e um carinho especial entre eles.
Como magia lá estava ela novamente a espera dele depois de alguns encontros e outros tantos desencontros.
Sentou-se na orla da praia vendo a vida transbordando nas crianças que brincavam alegres na areia.
Abriu um livro para passar o tempo, mas o coração pulsava tão acelerado que ela não se concentrava. Desistiu da leitura e ficou com seus pensamentos.
O tempo foi passando, as crianças se foram, os pescadores voltavam do mar...
E o horizonte não lhe trazia seu pirata.
Aos poucos as cores quentes iam se tingindo do breu da noite sem luar.
Olhou para trás e percebeu as luzes artificiais da cidade. Não iria desistir.
Voltou-se para o horizonte, procurou mais uma vez a lua, ela falaria com ele, mas só escuridão e o barulho das ondas quebrando na praia.
O vento frio da noite golpeou seu corpo levando a echarpe delicada de seu pescoço. As lágrimas finalmente se libertaram.
Tomou-se de tristeza na alma, escuridão, escuridão, escuridão...
Gradativamente ouvia o som dos pássaros lá fora, seus olhos se abriram e imediatamente se fecharam diante da luz do sol que invadia o quarto pelas frestas da janela que estalava anunciando o dia quente de verão.
De olhos fechados em segundos enxergou...Compreendeu a escuridão.
A echarpe estava ao seu lado.
Não houvera primavera.
Mal amanheceu e seu sol já se pôs.
Dalva Rodrigues
...
Mesmo tendo se passado tanto tempo a imagem daquele homem frequentemente vinha assombrá-la com as lembranças dos momentos que estiveram juntos.
'Não importa o que aconteça, nunca esqueceremos.'
Foi o que disseram um dia, no primeiro encontro agora tão distante.
Naquela noite quente enquanto observava o céu estrelado, em sua mente fantasiosa a lua cheia e brilhante sussurra em seu ouvido que em algum lugar ele também pensa nela e a espera. Suspirou diante de tais pensamentos e entrou em casa.
Procurou no armário uma caixa onde guardava recordações, retirou uma echarpe de voal branco transparente que usara na primeira vez que se encontraram e levou-a até o rosto, era tão macia...Fechou os olhos, podia sentir o perfume dele, sentir na pele o efeito do toque de suas mãos percorrendo seus braços lentamente.
Mais uma vez as lembranças voltavam...
A vontade de conhecê-lo fora forte o suficiente para perder o medo de um encontro com alguém que só conhecia virtualmente, como não era uma jovenzinha resolveu arriscar aquela nova experiência, talvez única e última diante da iminente velhice que a espreitava sem piedade. Sentia que ele era especial.
Que aventura deliciosa, esperara por ele no cais do porto sentindo o vento morno vindo do mar , vendo os navios no horizonte azulado sendo tragado pelo laranja rosado do pôr do sol; ouvindo Amy Winehouse no velho pen drive e o coração acelerado de ansiedade.
Decidiu-se, iriam novamente se encontrar, dessa vez daria tudo certo, tinha certeza.
Retirou do armário as poucas roupas que tinha e jogou-as sobre a cama, nada lhe agradava, o efeito dos anos no corpo não ajudava muito na escolha, mesmo assim escolheu lembrando e levando em conta o gosto dele. Deixou a roupa escolhida num canto e colocou a echarpe ao lado do travesseiro.
Deitou-se ansiosa para a manhã chegar.
Essa noite não queria sonhar com ele como sempre desejava, sabia que no dia seguinte teria seus beijos e abraços novamente...Confiava na lua, confiava nele.
Adormeceu.
...
O dia despertou e ela desafiou o tempo, seguiu o caminho que levava ao mar. A paisagem bucólica passava pela janela e o vento brincava com seus cabelos rebeldes e ligeiramente grisalhos enquanto sua mente projetava como num filme o primeiro e inesquecível encontro, deixando um sorriso espalhado em seu rosto marcado pela vida.Nunca se esqueceu da primeira vez que o viu ao longe, se aproximando, tinha certeza que era ele, mais alto do que imaginara, forte...Parecia um pirata que aportara de algum navio para arrebatar seu coração. Por instantes teve vontade de desaparecer no ar, talvez ele a achasse muito feia, daria a chance de fazer de conta que não a vira, virasse as costas e voltasse para seu navio pirata. Mas não foi o que aconteceu, logo descobriu que era o mais gentil, adorável e misterioso homem que jamais esqueceria. Tudo foi perfeito.
Não criaram laços, mas havia afeto e um carinho especial entre eles.
Como magia lá estava ela novamente a espera dele depois de alguns encontros e outros tantos desencontros.
Sentou-se na orla da praia vendo a vida transbordando nas crianças que brincavam alegres na areia.
Abriu um livro para passar o tempo, mas o coração pulsava tão acelerado que ela não se concentrava. Desistiu da leitura e ficou com seus pensamentos.
O tempo foi passando, as crianças se foram, os pescadores voltavam do mar...
E o horizonte não lhe trazia seu pirata.
Aos poucos as cores quentes iam se tingindo do breu da noite sem luar.
Olhou para trás e percebeu as luzes artificiais da cidade. Não iria desistir.
Voltou-se para o horizonte, procurou mais uma vez a lua, ela falaria com ele, mas só escuridão e o barulho das ondas quebrando na praia.
O vento frio da noite golpeou seu corpo levando a echarpe delicada de seu pescoço. As lágrimas finalmente se libertaram.
Tomou-se de tristeza na alma, escuridão, escuridão, escuridão...
...
Gradativamente ouvia o som dos pássaros lá fora, seus olhos se abriram e imediatamente se fecharam diante da luz do sol que invadia o quarto pelas frestas da janela que estalava anunciando o dia quente de verão.
De olhos fechados em segundos enxergou...Compreendeu a escuridão.
A echarpe estava ao seu lado.
Não houvera primavera.
Mal amanheceu e seu sol já se pôs.
Dalva Rodrigues
Oi, Dalva!
ResponderExcluirUm conto que traduz o romantismo que quando não satisfeito se desfaz em lágrimas. A frustração pelas expectativas não cumpridas e saber que mesmo com o passar dos anos, a alma não muda.
Beijus,
Dalva, que lindo te ler e nos prendes do início ao fim! Adorei esse sentimento tão bem expresso. Sobrara o lenço de voal...Mas muito dentro dela ainda...O pirata não voltou. mas dentro dela, recordações deixou! bjs, lindo dia e tuuuuudo de bom!chica
ResponderExcluirOi Dalva, é a Vi, as vezes é melhor sonhar, porque no sonho as coisas acontecem como desejamos, na vida real acontece sei lá como, porque muitas vezes fazemos de tudo para que seja de um jeito e acaba sendo de outra forma.
ResponderExcluirAmei seu conto.
Beijos,Vi