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10 de out. de 2021

Fragmentos aleatórios 6


As laranjas

Quando puxo a linha do tempo da vida pesco  memórias que como em gulosas colheradas de doces, sentada no desnivelado banco caipira no quintal.
Doces, literalmente doces, receitas de família, guardadas nos cadernos que se amarelam com o enrolar dos fios do tempo ou só carimbadas no cérebro, como ficou a memória das cascas grossas de laranjas submersas na grande tigela verde mesclada, coberta com saco de farinha alvejado.
Ficam demolhadas por dias num canto escuro da cozinha, com água trocada para tirar o amargor e se tornarem uma doce compota a cheirar pela casa enquanto é apurada na calda adocicada e brilhante, mexidas por mãos experientes e olhos atentos para o ponto exato não ser perdido.
Tentação e paciência se apuram nos longos dias e noites de espera para saborear as laranjas douradas como sóis em um pote de vidro lá no alto do armário, longe do alcance dos apressados que ainda não dominam a gula.
As cascas também são laranjas.


Pudim da Saudade

Há um pudim maravilhoso, receita da tia Cidinha, um mar açucarado sob cremosa camada de leite cozido, coberto com claras em ponto de neve com açúcar. Levado ao forno para corar o suspiro, gotas douradas emergem e iluminam os olhos de crianças.
Gotas  de sol sobre branca espuma na boca se derretem, como ondas se desfazendo na areia branca da praia, como doces e molhados beijos de perdição em manhãs de verão.
Doce doce, muito doce, que se repete de tempos em tempos sem perder a doçura, para trazer de volta as sensações dos domingos felizes dos tempos de criança.
A infância é a mais saborosa sobremesa da vida, que comemos antes de todas outras delícias.
E tem gosto de saudade.



Amigos, darei um tempo nas redes sociais, desta vez aqui no Blogger também. 
Minhas últimas postagens mostram todo meu cansaço emocional, quando as escrevi foi pensando em parar, mas acabei desistindo porque há um lado bem bacana na interação saudável e fiz excelentes amizades com os que souberam compreender meu jeito de ser,  escrever e interagir.
A princípio é um teste (de no mínimo 6 meses), quero ver como meu cérebro funciona sem essa extensão massiva de nossos pensamentos, minha memória, principalmente a recente, está falhando muito de modo a me preocupar. A concentração me foge sempre, não consigo trabalhar a longo/médio prazo com as palavras, elas fogem como as aves quando ouvem um rojão (e demoram a voltar, isso quando voltam).
A toxidade das redes também é algo que me desgasta muito e não há filtro totalmente eficiente para limitar isso.
Preciso disso? Definitivamente, não.
E se incomoda é porque permito.
Essa velocidade toda me atropela as ideias, preciso de silêncio.
Então, ação, quero sentir os dias simples de velhice de um ser humano sem toda essa tecnologia (só o mínimo necessário).
Nossa casa é nosso templo onde nos abrigamos e podemos ter paz.
A WEB é uma torre de Babel que nunca se silencia, não quero mais essa loucura. 
A virtualidade que praticamos hoje é criação humana e não da natureza onde está nossa melhor e mais suave conexão.
Tudo isso é realidade, não há como voltar ao tempo antes dessa tecnologia, no entanto aqui no meu mundinho particular, quero fazer o caminho de volta que espero ser o que me trará uma mente mais silenciosa, serena. 


Obrigada aos que deixaram por aqui seu carinho e também me permitiram leituras de poesias belíssimas, textos interessantes, leves e animadores, dicas variadas, receitas...
Abração e continuem se cuidando, valeu!

Obs: Não responderei os comentários como costumeiramente faço, então deixo antecipadamente meus agradecimentos.


Conversa muito interessante com o psicólogo Rossando Klinjey


18 de set. de 2021

Atmosfera


Tanta vida acontecendo em uma plantinha "qualquer".
O que cabe neste breve respirar?




Alguns casulos se transformarão neste inseto 
que se confunde com os brotos e sementes quando quase secas.

Poucos vivem até a transformação final.




Parecem baratas, mas não são.






A paina se rompe suavemente para levantar a semente.
A vida espera um sopro do vento.














Todos existem, conscientes ou não.
Tudo nasce e morre o tempo todo, a atmosfera pertence a todos.
E a primavera está batendo à porta, sentem?
O que queremos ver, sentir, realizar?
Procuro ar puro na natureza silenciosa, em busca de poesia.
Desejo a quietude dos voos interiores, das palavras  desarrumadas flutuando perdidas em busca de sentido, sem verborragia, sem busca de atenção, sem ser alvo de pertubações delirantes e excesso de informações.
Despir as roupas pesadas, dar um salto no céu para inspirar ar puro prolongadamente e quem sabe voltar, colocar meus pés no chão, em paz.
Longe das balas e conflitos, longe de todo tipo de guerra. 

Dalva Rodrigues 
18/09/2021









26 de ago. de 2021